Resgate histórico de uma artista

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Mulher, artista, freira, atenta já na década de 1970 a questões de urgência tanto à arte contemporânea quanto ao futuro planetário. Apesar da devoção aos motivos ecológicos, a artista visual Helle Henriques Bessa (1926–2013), que adotou o nome de Irmã Margarida ao ingressar na Congregação Franciscana de Dillingen, ou pela história como uma completa desconhecida, até mesmo aos olhos da academia. Em memória de seu legado, a exposição Impressões contra o Fim, com criações da artista, tem abertura hoje, às 17h, na Galeria de Arte Lavandeira (no Centro de Comunicação, Turismo e Artes da UFPB, no Castelo Branco). A visitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 19h.

Ao todo, 300 obras da artista foram doadas pela instituição religiosa, o que resultou em um recorte expográfico de 30 exemplares para a mostra, por meio do projeto de pesquisa “Mulheres Artistas Visuais na Paraíba” (mais detalhes no Instagram @mulheresartistasnapb), coordenado pelas professoras Sabrina Melo (UFPB) e Madalena Zaccara (UFPE), que assinam a curadoria da mostra junto com Vitória Formighieri, aluna egressa do curso de Artes Visuais da UFPB.

Das gravuras selecionadas, há apenas uma pintura, mesmo assim inspirada em uma das xilogravuras. “Tem xilo — que é na madeira —, tem monotipia, tem técnica mista, mas todas no âmbito da gravura”, explica Sabrina, que é também museóloga da Pinacoteca da UFPB.

“Só tenho uma obra dela no acervo. É preciso pensar em tantas mulheres que acabam sendo silenciadas pela história da arte na Paraíba. E mostrar como o acervo dela, que é gigante, fala de temas supercontemporâneos”, afirma a curadora, ressaltando que ninguém na  universidade conhecia o trabalho de Helle — o qual, curiosamente, já adentrou os salões internacionais, em mostras de países como México, Portugal, Itália e Japão.

Dada a amplitude do acervo, a decisão curatorial recaiu sobre a prevalência do tema ecológico, em função da centralidade do assunto para o contemporâneo na arte. Mas Bessa também expressou-se em formas geométricas, que restam guardadas para uma próxima exposição.

“A gente pensou em algo mais linear, biográfico, envolvendo também a prática dela como docente, porque ela também ensinou arte. Então, foi difícil”, atesta Sabrina.

Como o acervo chegou às mãos da curadoria sem tratamento, foi feito um inventário inicial, além de pequenos reparos em algumas obras. “Nos deparamos com esse acervo doado diante de uma mulher, freira, militante da ecologia na década de 1970”, destaca Madalena. “É muito difícil trabalhar atualmente com cultura devido às limitações de verba, mas foi muito enriquecedor conhecer e mostrar o trabalho dessa pioneira feminina da ecologia. A preservação do arquivo da Helle pela sua ordem religiosa foi muito importante pra gente poder mostrar essa pessoa e esse trabalho”.

Além da vinculação à congregação franciscana, Helle Bessa tinha formação no campo das artes visuais por meio de cursos livres. Estudou pintura, gravura, desenho e integrou a Associação Paraibana dos Amigos da Natureza (Apan), sempre preocupada, ética e espiritualmente, com a preservação do meio ambiente e a proteção aos animais.

Estarão presentes no vernissage as três curadoras da mostra, bem como as irmãs franciscanas da ordem de Dillingen. Em breve o projeto terá um registro em livro sobre as mulheres artistas visuais do estado, margeadas pelo processo histórico, do qual Helle Bessa figura como pedra de salvação.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de junho de 2025.


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A União

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